
18 de setembro, de 2025 | 08:45
Transplante de órgãos: mãe ipatinguense relata angústia na espera de um coração para a filha
Enviada ao Diário do Aço
Há dois meses a criança usa o dispositivo Berlim Heart, utilizado para ajudar o coração a bombear sangue adequadamente

Por Dani Roque - Estagiária sob supervisão
A doação de órgãos é um gesto solidário. Um único doador pode beneficiar várias pessoas, já que é possível doar rins, fígado, coração, pulmões, pâncreas, intestino, córneas, valvas cardíacas, pele, ossos, tendões, entre outros. A doação, portanto, representa uma oportunidade de salvar múltiplas vidas e transformar histórias por meio da generosidade.
Cecília de Abreu Rodrigues, uma criança de dois anos e oito meses, está entre os milhares de brasileiros que precisam da doação, no caso, de um coração. A menina nasceu saudável, sem nenhum sinal de cardiopatia. Porém, há cerca de um ano e dois meses, foi diagnosticada com um distúrbio raro: a cardiomiopatia hipertrófica (CMH).
Em entrevista ao Diário do Aço, a mãe da menina, Rinara de Abreu, moradora do bairro Bom Jardim em Ipatinga, explica sobre a importância da conscientização de famílias sobre a doação de órgãos. Quando se fala em doação, a gente não lembra que há crianças na fila e que crianças também podem doar. A gente acha que é só adulto. É muito difícil eu, como mãe, saber que a minha filha depende da conscientização de uma outra família”, relatou a mãe, contando que a menina está há dez meses na fila de espera. São muitos requisitos para a doação, como o tamanho e peso do doador. Então, quanto mais baixo o peso, quanto menor a criança, mais demorada é essa espera, porque, infelizmente, para a doação do órgão, a criança precisa ter morte encefálica, o que dificulta ainda mais o transplante. Além do fato de muitas famílias não saberem que a criança pode ser doadora”, apontou.
A mãe conta que, dois meses depois do início do tratamento, houve a internação da filha: Ela foi internada em Belo Horizonte. Em seguida, precisamos vir com ela para São Paulo, para o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP (Incor), e desde então estou com ela na UTI aqui em SP. O quadro dela só foi se agravando, e hoje em dia ela sobrevive com o Berlim Heart, que é um coração artificial”.
Rinara contou ainda acerca dos esforços da equipe médica em relação à filha. Cecília também é mais especial, porque ela sofreu dois AVCs, e passou por um procedimento que foi único no Brasil, que foi uma trombectomia mecânica. É um procedimento que é feito em adultos, mas não há protocolos infantis. A equipe de neuropediatria e neurocirurgia da USP está fazendo o protocolo pediátrico de trombectomia em cima da Cecília. E o Berlim Heart está sendo esse auxílio para ela aguentar a chegada do novo órgão. Ela está listada entre nove e dez meses”.
Enviada ao Diário do Aço
A mãe compartilha em seu Instagram a rotina de acompanhamento do tratamento da filha, que sofre com a cardiomiopatia hipertrófica

Medicamento e Anvisa
Rinara relatou que Cecília pode se tornar a primeira brasileira a usar um medicamento vindo da Europa. Ela usa o Berlim há dois meses e, nesse tempo, já trocou as bombas três vezes, por conta da formação de trombos. Nós já fizemos um mapeamento genético dela e ela não tem trombofilia. Então, os médicos não sabem o porquê da formação de tantos trombos. Os médicos estão tentando a compra de um medicamento que é de uso somente na Europa, ainda não tem certificação da Anvisa para uso aqui no Brasil. Como o Instituto do Coração é um hospital da USP, eles estão tentando essa compra via experimento. Se a Cecília chegar a esse medicamento, ela vai ser a primeira criança do Brasil a fazer uso, a primeira pessoa no Brasil a fazer uso desse medicamento anticoagulante. E a gente está aqui firme e forte”, detalha.
Diante de tantas dificuldades em meio ao tratamento da filha, Rinara vê com esperança o futuro. Eu quero que ela seja feliz, com saúde, que seja um adulto independente, que ela brinque, que ela descubra o mundo, porque até hoje o mundo dela é o hospital. Ela tinha a vida dela lá fora, mas ela internou com um ano e nove meses. Então, acho que ela não tem tanta lembrança da nossa casa. Ela lembra quando eu mostro foto para ela, eu vejo que ela reconhece”.
Esperança na doação
A mãe ressalta a confiança de conseguir um coração para a filha. Eu nunca me imaginei um dia ter um filho que seja listado para um transplante, independentemente do órgão. Se você tem a possibilidade de fazer o bem, de fazer a vida seguir adiante mesmo diante de uma dor tremenda, por que não doar?”, questionou Rinara, lembrando da importância do Setembro Verde, mês de conscientização da doação de órgãos.
Que as pessoas possam pensar um pouquinho mais quando chegar o momento de dor, porque quem pode fazer a doação é o familiar. Quem tem essa vontade de ser doador, que avise à família, amigos, parentes, porque são os parentes que vão falar se a pessoa tem esse desejo ou não. Não adianta estar escrito só no RG que você é doador de órgão, porque no momento quem vai autorizar é a família. Então, é a família que tem que estar sabendo”, concluiu a mãe.
Rinara compartilha a sua rotina acompanhando o tratamento e evolução de Cecília em seu Instagram: @rinara_abreu.
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