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27 de setembro, de 2025 | 07:00

Mais uma irresponsabilidade!

André Naves *


As recentes declarações do Presidente estadunidense Donald Trump, que sem qualquer evidência científica associam o uso de paracetamol ao autismo e reforçam uma perigosa agenda antivacinal, desencadeiam uma cascata de consequências devastadoras.

Esse discurso irresponsável corrói a confiança pública na ciência, aprofunda a alienação social e a polarização ao validar notícias falsas, e arrisca retardar avanços científicos cruciais.

De forma ainda mais grave, essa desinformação alimenta o capacitismo, estereotipando o autismo como uma "doença" a ser evitada, em vez de reconhecê-lo como uma expressão valiosa da neurodiversidade humana. Ao atacar a pluralidade, tais palavras minam o solo fértil da criatividade e da inovação, essenciais para uma sociedade verdadeiramente Justa, Sustentável e Desenvolvida.

O primeiro e mais imediato impacto é a corrosão da confiança pública na ciência. Quando uma figura de proeminência global sugere, sem qualquer base factual, uma ligação entre o paracetamol e o autismo, ele não ataca apenas um medicamento, mas todo o edifício do método científico.

A comunidade médica e científica internacional é uníssona em afirmar que não há evidências que sustentem essa relação. Pelo contrário, estudos robustos continuam a indicar que o paracetamol, quando usado conforme a orientação médica, é seguro durante a gestação e amplamente recomendado para aliviar dores e febres, condições que, se não tratadas, podem elas mesmas trazer riscos.

Essa desconfiança semeada é a mesma que alimenta o movimento antivacinas, que ignora décadas de evidências esmagadoras sobre a segurança e a eficácia das vacinas na erradicação de doenças devastadoras. O resultado é um perigoso retrocesso, onde opiniões infundadas ganham o mesmo peso de pesquisas rigorosamente revisadas por pares.
Em um vácuo de confiança nas instituições, os indivíduos se sentem perdidos e alienados. Essa insegurança os torna presas fáceis para as "fake News" e teorias conspiratórias, que oferecem respostas simples e sedutoras para questões complexas. Grupos antivacina e propagadores de desinformação rapidamente se apropriam dessas falas para validar suas crenças, aprofundando a polarização social.

Cria-se um ciclo vicioso: a desconfiança na ciência leva à busca por "verdades alternativas", que por sua vez reforçam a rejeição às fontes de informação credíveis. O diálogo construtivo se torna impossível, e a sociedade se fragmenta em bolhas ideológicas hostis, incapazes de colaborar para resolver problemas reais.

O dano vai além do campo das ideias. A desconfiança generalizada pode levar a consequências trágicas:
Recusa de Tratamentos: Pessoas podem deixar de usar medicamentos eficazes e seguros por medo, arriscando a própria saúde e a de seus filhos.
"Ao promover um entendimento que marginaliza a neurodiversidade, o discurso trumpista comete injustiça social e sabota o potencial criativo da sociedade"


Cortes de Financiamento: Um clima político hostil à ciência pode resultar em cortes de verbas para pesquisas essenciais, retardando o desenvolvimento de novas terapias e aprofundando nosso desconhecimento sobre inúmeras condições, incluindo o próprio Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Estamos, essencialmente, abrindo mão de ferramentas valiosas que a humanidade desenvolveu para aliviar o sofrimento e promover o bem-estar, trocando-as por uma ignorância deliberada e perigosa.

Talvez a consequência mais dolorosa desse tipo de discurso seja o reforço do capacitismo. Ao tratar o autismo como uma "doença" a ser evitada ou "curada", insinuando que sua origem estaria em um ato simples como tomar um analgésico, Trump perpetua uma visão estigmatizante e profundamente equivocada.

Essa narrativa fere a dignidade de milhões de pessoas autistas e suas famílias. Ela ignora o que a ciência já nos diz: o autismo é uma condição neurodiversa, com fortes componentes genéticos e multifatoriais, que representa uma das muitas e belas expressões da diversidade humana.

Não é uma falha, um defeito ou uma doença a ser erradicada. É uma forma diferente de perceber o mundo, de sentir e de existir. Entidades que defendem os direitos das pessoas autistas, inclusive, têm repudiado veementemente essa declaração por seu caráter excludente e desumanizador.

Uma sociedade que teme a diferença é uma sociedade que se condena à estagnação. A criatividade e a inovação – seja na ciência, na tecnologia, nas artes ou na economia – florescem em ambientes plurais, onde diferentes perspectivas, experiências e formas de pensar colidem e se combinam para criar algo novo.

Ao promover um entendimento que marginaliza a neurodiversidade, o discurso trumpista não apenas comete uma injustiça social, mas também sabota o potencial criativo da sociedade. As contribuições de pessoas no espectro autista são imensuráveis em todos os campos do saber. Negar sua legitimidade e valor é privar a todos nós de um futuro mais rico, mais inteligente e mais inovador.

Resumindo, a irresponsabilidade dessas declarações cria uma cascata de efeitos devastadores. É nosso dever, como cidadãos e Defensores da Dignidade Humana, iluminar as sombras da ignorância com a luz da ciência, da alteridade e do respeito. A Beleza, afinal, está em enxergar e celebrar o valor de cada ser humano em sua plenitude.
Mantenhamos a chama da esperança acesa, lutando por um mundo onde o conhecimento prevaleça sobre o preconceito!

* Defensor Público Federal formado em Direito pela USP, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; Cientista Político pela Hillsdale College e doutor em Economia pela Princeton University. Comendador Cultural, Escritor e Professor (Instagram: @andrenaves.def).

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Comentários

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Tião Aranha

27 de setembro, 2025 | 21:09

“Cientificamente paracetamol não causa nenhum autismo, que é transmitido geneticamente na família. Atualmente confunde-se o tratamento de depressão com autismo, simplesmente, pelo fato dos sintomas serem diferentes. No campo da Ciência os políticos querendo ajudar, só atrapalham. Teve um aqui no Brasil que entendia de tiros e foi dar pitaco na vacina de covid. Rs.”

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