
14 de outubro, de 2025 | 06:00
Coisa de doido...
Nena de Castro *
OS ANDARILHOS AS CRIANÇAS E OS PASSARINHOS TEM O DOM DE SER POESIA”, escreveu Manoel de Barros em sabedoria que o fazia ver no seu quintal grandezas sem fim. Sábio poeta que enxergava nas desimportâncias” o que realmente importa... Posé, a Bugra nessa semana vislumbrou certas coisas que se adaptam a essa máxima manoelina. Vejam só: meu amigo-irmão Luis Paulo Santos, juiz de futebol, astro da arbitragem em Ipatinga, dependurou literalmente as chuteiras, após uns 40 anos de apito. Levou cascudos, enfrentou adversários violentos, festejou vitórias, sempre sabendo que o importante era apoiar a prática do esporte que leva o homem ao divertimento e à saúde.
Das crianças, encanto da vida, amo vê-las, contar Histórias, rir com elas, ver aqueles olhinhos brilhantes olhando pra mim... Passarinhos são outra paixão, meu quintal/jardim é visitado todos os dias, desde a manhã esperam o miolo de pão, bebem a água do Kim e se banham na vasilha na maior falta de cerimônia, ele late, mas eles nem ligam, eita que os bichinhos são mansos e amigos!
Agora, o que me marcou essa semana, passo a narrar, meus amados cinco leitores: voltava para casa há uns dois sábados, vestida de JUJUBA, tinha participado do Quintal Literário no Alto Esperança, vim de carona e parei no Horto para pegar meu carro. Caminhei pelo local onde fica o caminhão do abacaxi e dobrei à esquerda, onde tem um banco. Ali estavam assentados na calçada dois moradores de rua, e um deles gritou: olha, lá vem a alegriaaaa! Fiz-lhes uma reverência e caminhei para perto.
- Olá, sou a JUJUBA e venho de um projeto que incentiva a leitura!
- Muito bom - disse um deles - eu também gosto muito de ler! Estou lendo A Megera Domada de Shakespeare, me divertindo com Petruchio e Catarina!
Fiquei lá uns instantes, contei uma História pra eles e saí, pensando se era verdade! Então nessa quinta passei defronte ao Banco do Brasil e parei: assentado no chão, o homem que só tem um braço, lia em voz alta o diálogo shakespereano entre um homem e uma mulher que preza sua liberdade acima do machismo que a propósito, existe até hoje!
É uma obra que questiona estereótipos, convida a repensar papeis sociais e buscar relações mais justas e equilibradas onde o respeito mútuo e a individualidade sejam pilares fundamentais”.
Orra, meu! - e eu que achava que já tinha visto tudo, desde matanças no Contestado a gente orando para pneus, fiquei ali abestada olhando esse brasileiro que está no fundo do poço, doente, esperando uma aposentadoria do INSS que não sai, esperando que se faça justiça, esperando esperando, esperando o trem/ esperando o norte/ esperando a sorte/ esperando a morte/ esperando o dia/ de esperar ninguém!/ Pedro não sabe mas talvez no fundo/ espere alguma coisa/ mais linda que o mundo/ maior que o mar”.( Pedro Pedreiro, de Chico Buarque).
Ai, Brasil país de políticos ávidos, ratos espertos que só pensam em furtar, não pensam no Povo, na Saúde na Educação na Segurança...! E como o Piu-Piu, nos desenhos animados, digo: acho que vi um mendigo lendo Shakespeare! Vi, sim! Por mais inverossímel que pareça, repito o velho índio em I-Juca- Pirama”, (Gonçalves Dias) dizendo: meninos, eu vi”! E nada mais digo...
* Escritora e contadora de histórias.
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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