15 de outubro, de 2025 | 07:00

UFMG: Restaurar Mata Atlântica é rentável

Antônio Nahas Júnior *


Uma boa notícia vem da UFMG: Foi feito no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, que abrange 15 municípios e é uma reserva de Mata Atlântica em Minas Gerais, próximo a Viçosa, um estudo pioneiro, que compara a rentabilidade entre manter áreas devastadas de Mata Atlântica como pastagens, obtendo um pequeno rendimento, ou recupera-las, refloresta-las e obter renda com a venda de créditos de carbono.

E o estudo comprovou que é mais rentável a restauração da floresta nativa. O estudo foi desenvolvido pelo pesquisador Charles de Oliveira Fonseca, dentro do Programa de Pós-Graduação em Analise e Modelagem de Sistemas Ambientais, vinculado ao Departamento de Cartografia do Instituto de Geociências (IGC) da UFMG.

O pesquisador partiu de uma hipótese inicial: "onde podemos melhorar a produção de água? o que podemos fazer para aumentar as manchas florestais?". Como base nesta premissa, elaborou um diagnóstico, com dados do projeto MapBiomas.

E sem o Mapbiomas o estudo não poderia ter sido feito. O MapBiomas é uma rede global e multi-institucional, formada por universidades, ONGs e empresas de tecnologia, que monitora as transformações na cobertura e no uso da terra nos territórios e seus impactos. Em 2025, a rede completou dez anos, fornecendo a mais atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país disponível no mundo. Nascido no Brasil, o MapBiomas está atualmente presente em 14 países – toda a América do Sul e Indonésia.

E a partir daí o estudo deslanchou. Havia dados dos anos 1985, 2005 e 2022, que permitiram definir as áreas prioritárias para restauração florestal. Ficou evidenciada a fragmentação das propriedades rurais ao longo da Mata Atlântica.

Assim a implementação do projeto envolveria diálogo e concordância de cada um dos produtores rurais. Um fato que poderia ajudar na iniciativa é que a maioria das propriedades preservava menos a vegetação nativa do que o estabelecido pelo Código Florestal.

Por último foram projetados dois modelos de restauração, com áreas diferentes, sem afetar os espaços já ocupados pelos produtores rurais. E nos dois modelos, com a restauração das áreas identificadas como prioritárias, o aluguel de pastagens renderia menos de um terço do que a conversão destas áreas em florestas, que cresceriam sozinhas após os cuidados iniciais, gerando uma renda passiva e crescente.
“O estudo comprovou que é mais rentável a restauração da floresta nativa”


Os números apresentados pelo pesquisador são surpreendentes. Segundo ele, no primeiro cenário, com a restauração de 3.851 hectares, no período de 25 anos, o aluguel de pastagens renderia 280 mil dólares anuais, enquanto que as florestas, após a restauração, renderiam mais de 1 milhão de dólares anuais. "Conclui-se que a restauração florestal no entorno do PESB pode promover a sustentabilidade ambiental e socioeconômica da região, alinhando-se às metas globais de recuperação de 12 milhões de hectares de florestas até 2030, conforme o Acordo de Paris e a Década da Restauração de Ecossistemas da ONU.", afirma o pesquisador.

Certamente é um trabalho importante, porém sua implementação não estará livre de percalços de toda ordem. A geração de créditos de carbono só acontece quando há iniciativas que alteram uma determinada situação, o que permitirá o sequestro de CO2 da atmosfera, pelo aumento da cobertura vegetal. Trata-se de um projeto de longo prazo pois a geração de créditos vai acompanhar o desenvolvimento da floresta. E, durante um período, enquanto a floresta estiver desenvolvendo, o pequeno produtor vai ficar no prejuízo.

E, como a experiência vem mostrando o mercado de crédito de carbono no Brasil ainda engatinha.

Seja como for, é uma ótima notícia. Sem viabilidade econômica, a preservação de florestas e a recuperação de áreas degradadas não vai decolar. E pode ser analisada sua aplicação no Vale do Aço, nas cercanias do Parque Estadual do Rio Doce, com a colaboração das instâncias governamentais. A preservação da Mata Atlântica em Minas Gerais é nossa prioridade.

A título de exemplo, o Mapbiomas gerou este mapa para Marliéria, município extenso, com área territorial mais de três vezes superior à de Ipatinga, população inferior a cinco mil habitantes, que possui mais de 70% da sua área ocupada pelo Parque Florestal do Rio Doce. Mais de doze mil hectares da sua área são ocupados por pastagens. Há séries históricas e dados sobre a evolução da sua ocupação por atividade econômica ou ambiental.
Reprodução
A título de exemplo, o Mapbiomas gerou este mapa para MarliériaA título de exemplo, o Mapbiomas gerou este mapa para Marliéria

Para quem se interessar, segue o link do Mapbiomas e o endereço da tese do pesquisador que fez este trabalho maravilhoso: https://brasil.mapbiomas.org.

* Economista, empresário. Morador de Ipatinga. Na luta pela preservação do nosso Planeta.

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Comentários

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Tião Aranha

15 de outubro, 2025 | 08:26

“O tema é complicado. Eu mesmo tenho um tio que faleceu recentemente deixando 100 alqueires de terra para a família que simplesmente não produz um pé de banana. O governo deveria fazer um mapeamento de toda área improdutiva no país usando satélite de comunicação; fazer a reforma agrária, fazer a correção do solo com o uso do calcário e doar para as famílias de pequena renda familiar, tal qual foi feito na China, e mesmo nos Estados Unidos, ao invés de ficar fazendo demagogias usando de condições climáticas, deixando ONGS estrangeiras explorar nossos biomas, tal qual faz a Marina.”

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