24 de outubro, de 2025 | 08:00
O risco que ameaça uma geração: álcool e drogas entre os jovens
Carlos Alberto Costa *
O aumento do consumo de drogas ilícitas entre crianças e adolescentes é uma realidade alarmante - mas talvez o que mais devesse nos preocupar é o consumo da droga mais aceita e incentivada de todas: o álcool. Embora legal e socialmente tolerado, ele tem sido a porta de entrada para outras substâncias e para uma série de comportamentos de risco que comprometem o futuro de uma geração. O assunto foi tratado na Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e Outras Drogas da Assembleia Legislativa de Minas.
Os dados da 3ª edição do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad)apresentados quarta-feira (22/10) são preocupantes. Quase um terço dos adolescentes brasileiros entre 14 e 17 anos já experimentou bebida alcoólica. Um dado que, isoladamente, já seria grave, mas se torna ainda mais inquietante quando se observa que as meninas superaram os meninos em todas as faixas de consumo. Isso mostra que a exposição e a vulnerabilidade ao álcool atravessam barreiras culturais e de gênero, refletindo uma banalização generalizada da bebida na juventude.
É preciso compreender que, embora o álcool seja uma substância lícita, seus efeitos são tão destrutivos quanto os de muitas drogas ilegais. Ele é um depressor do sistema nervoso central, capaz de provocar dependência, descontrole emocional e danos irreversíveis ao cérebro em desenvolvimento. Quando consumido precocemente, potencializa riscos de violência, acidentes, suicídios, gravidez não planejada e infecções sexualmente transmissíveis.
A proibição de venda para menores de idade, embora prevista em lei, é sistematicamente desrespeitada. O acesso é fácil, o incentivo é constante e a fiscalização é frágil. De um lado, campanhas educativas alertam sobre os perigos; de outro, a publicidade glamuriza o consumo, e o próprio Estado lucra com a arrecadação de impostos sobre bebidas alcoólicas. Essa contradição revela uma hipocrisia social: o mesmo governo que financia campanhas de prevenção é o que depende economicamente de uma droga que destrói famílias e ceifa vidas.
A proibição de venda para menores de idade, embora prevista em lei, é sistematicamente desrespeitada”
Outro fator preocupante é a modernização das substâncias. O cigarro eletrônico - o vape” - tem conquistado adolescentes com aparência inofensiva, sabores adocicados e uma falsa sensação de segurança. A indústria soube transformar o vício em um acessório de estilo, mascarando o perigo real de uma dependência química precoce.
Não há caminho fácil para resolver esse problema. A solução passa, necessariamente, pela educação e pela presença ativa da família. Programas como o Proerd e outras iniciativas preventivas têm papel relevante, mas não podem agir sozinhos. A escola precisa ser um espaço de diálogo real sobre drogas - não de repressão moral, mas de formação crítica.
Precisamos também fortalecer a rede de proteção social. Centros de referência, políticas públicas de assistência, esporte, cultura e lazer devem ser acessíveis, especialmente nos municípios pequenos, onde as oportunidades escasseiam e o tráfico oferece a sedutora promessa de dinheiro e pertencimento.
Quando uma criança é alcançada pelas drogas, o problema deixa de ser apenas de saúde. É social, educacional e ético. E a omissão coletiva - de famílias, escolas e governos - é o combustível que alimenta essa tragédia silenciosa.
Se quisermos realmente proteger nossos jovens, precisamos começar pelo óbvio: parar de tratar o álcool como uma simples bebida recreativa e reconhecer que ele é, sim, uma droga perigosa. O primeiro passo é romper com o negacionismo social e encarar o problema de frente. Caso contrário, continuaremos enxugando gelo enquanto mais uma geração se perde entre copos, cigarros eletrônicos e ilusões vendidas em festas e propagandas.
* Professor aposentado.
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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