30 de outubro, de 2025 | 08:50
Entre estantes e histórias: o papel das bibliotecas do Vale do Aço no acesso à Literatura
Por Matheus Valadares - Repórter Diário do Aço
Dados divulgados pela 6ª pesquisa Retratos da Leitura no Brasil do Instituto Pró-Livro apontam que 53% da população afirmou não ter lido nenhum livro, seja impresso ou digital, nos três meses anteriores ao estudo. Além disso, entre 2015 e 2020, o Brasil teve uma retração no número de bibliotecas públicas, com o fechamento de ao menos 764 unidades, caindo de 6.057 para 5.293 em cinco anos.
A informação do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), mantido pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN), revela que Minas Gerais e São Paulo concentraram 91% dos fechamentos, o que equivale a uma perda de 698 espaços de leitura. Em solo mineiro, foram 160 bibliotecas a menos.
A escassez de espaços de leitura é acompanhada por outro dado preocupante. O Censo Escolar de 2024 mostrou que 63% das escolas não possuem bibliotecas ou salas de leitura. Um cenário que impõe desafios à formação de leitores e reforça o valor dos espaços que resistem. No entanto, no Vale do Aço há oásis em meio à desertificação da leitura, algo que ganha ainda mais valorização na semana em que é celebrado o Dia Nacional do Livro (29/10). Um destes se encontra no Centro de Ipatinga, na rua Mariana. Nos corredores silenciosos da Biblioteca Pública Municipal Zumbi dos Palmares as histórias ganham vida não apenas nas páginas, mas também nas vozes e nos encontros, mostrando que o livro ainda é um dos instrumentos mais poderosos para transformar uma comunidade.
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A Biblioteca Central de Ideias é patrocinada pela Usiminas por meio da Lei Rouanet e mantém 2.400 sócios ativos
A Biblioteca Central de Ideias é patrocinada pela Usiminas por meio da Lei Rouanet e mantém 2.400 sócios ativosConforme a administração municipal, o acervo conta com 40 mil exemplares, entre livros regulares e em Braille, atendendo leitores de todas as idades.
A gerente Graziella Matos acredita que o espaço se transformou em um ponto de encontro entre gerações. O público que aprecia o livro físico vai sempre existir. Com a vinda das escolas de música e artes cênicas para o mesmo prédio da biblioteca, foi considerável o aumento do número de usuários e também de visitantes. Por mais que as pessoas leiam hoje em dia também por meio dos tablets, o livro físico tem o seu valor afetivo, com isso a sua prevalência ainda para os empréstimos dos livros”, afirma.
Com média mensal de 3 mil frequentadores e mais de 660 empréstimos, a biblioteca se mantém viva por meio de parcerias e projetos culturais. Um dos mais conhecidos é a Noite Mineira de Museus e Bibliotecas, promovida a cada dois meses para ampliar o acesso fora do horário comercial. Há também a colaboração com o Clube do Livro para Mulheres, que promove encontros e debates literários, além de oficinas artísticas e teatrais financiadas por leis de incentivo à cultura.
A leitora e jornalista Brenda Duarte, de 28 anos, é uma das frequentadoras assíduas. A leitura sempre fez parte da minha vida. É um hábito que melhora a escrita, a fala e estimula a criatividade. Participo do Clube do Livro para Mulheres, e é muito mais do que ler, é trocar vivências, conhecer pessoas e abrir a cabeça para novas ideias”, revela a leitora.
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A biblioteca Raquel Pacífico Drumond, em Timóteo, tem uma média mensal de 3.800 empréstimos e cerca de 800 frequentadores
A biblioteca Raquel Pacífico Drumond, em Timóteo, tem uma média mensal de 3.800 empréstimos e cerca de 800 frequentadoresPara Brenda, há um certo encanto ao pegar as folhas tingidas por tintas, que expressam sentimentos, espalham conhecimentos e mexem com a imaginação. Nada substitui o livro físico. Há algo afetivo em folhear, sentir as páginas. O digital populariza, mas o impresso cria vínculo, finaliza a jornalista”.
Biblioteca Central
Ainda em Ipatinga há outro espaço dedicado à leitura. Há duas décadas a Biblioteca Central de Ideias, no Centro Cultural Usiminas, ao lado do Shopping Vale do Aço, oferece serviços gratuitos à comunidade. Com um acervo de mais de 4 mil livros distribuídos em 80 classificações, o espaço recebe cerca de 550 visitantes e promove 500 empréstimos por mês. Ali, a leitura se mistura à convivência, com avós, pais e filhos dividindo o mesmo hábito em diferentes gerações.
Entre as ações de destaque estão a Contação de Histórias, que reuniu quase 600 pessoas em 2025, e o Delivery de Livros, criado durante a pandemia e mantido até hoje, que permite que exemplares sejam entregues gratuitamente em residências dos quatro municípios da Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA). Os livros são levados pelo motoboy a cada terça-feira, e só neste ano, foram 845 empréstimos feitos por meio do serviço, conforme dados repassados à redação pelo Instituto Usiminas, que administra a unidade.
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Brenda (segunda da esquerda para direita) é uma leitora assídua e faz parte do Clube do Livro para Mulheres
Brenda (segunda da esquerda para direita) é uma leitora assídua e faz parte do Clube do Livro para Mulheres A biblioteca também abriga oficinas, visitas escolares e eventos como o Salão do Livro, que movimenta milhares de pessoas. Para Penélope Portugal, diretora do Instituto Usiminas, o espaço representa uma trincheira de resistência.
Em um contexto com a redução cada vez maior no número de bibliotecas no país, entendemos que o trabalho de duas décadas realizado pela Central de Ideias com o objetivo de formar uma comunidade leitora é fundamental. Suas atividades e serviços de fomento à leitura, tanto no espaço físico quanto por meio do delivery, são formas de contribuirmos para o desenvolvimento de pessoas e da comunidade” declara.
A biblioteca é patrocinada pela Usiminas por meio da Lei Rouanet e mantém 2.400 sócios ativos. Funciona de terça a sábado, das 12h às 20h, e permite associação gratuita.
Timóteo: entre a tradição e o novo
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Graziella afirma que o movimento na biblioteca de Ipatinga representa um contraste ao cenário nacional
Graziella afirma que o movimento na biblioteca de Ipatinga representa um contraste ao cenário nacionalNo município de Timóteo, os livros também ganham espaço nas prateleiras, com duas portas abertas para o conhecimento e deixando a esperança viva que o acesso à literatura é um importante caminho para formar cidadãos.
As duas bibliotecas públicas timotenses cumprem papéis complementares. A Raquel Pacífico Drumond, no bairro Timirim, a mais antiga da cidade, guarda 15 mil títulos e 34 mil exemplares, com média mensal de 3.800 empréstimos e cerca de 800 frequentadores.
Já a Biblioteca Dorcas Bomtempo Ameno, instalada no Centro de Esportes e Artes Unificados (CEU), no Vale Verde, representa o futuro. Em fase de estruturação, ainda sem empréstimos formais, aposta em projetos culturais como Timóteo em Poesias e Dança Circular em Cirandas para atrair o público e consolidar-se como novo polo de leitura na cidade.
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