04 de novembro, de 2025 | 18:09

Turismo de experiência destaca sabores e tradições em Andrelândia

Visitantes conhecem vinícola, lagar, alambique e meliponário em roteiros que valorizam o modo de vida mineiro

Bruno Figueiredo/Secult-MG
Turismo de experiência em Andrelândia permite que o visitante se conecte com a naturezaTurismo de experiência em Andrelândia permite que o visitante se conecte com a natureza

Por Matheus Valadares - Repórter Diário do Aço

Minas são muitas, já dizia Guimarães Rosa, e uma porção dela está nas Montanhas Mágicas da Serra da Mantiqueira. O clima e a altitude têm propiciado ao município de Andrelândia encontrar no turismo de experiência uma forma de aproximar visitantes do modo de vida e das tradições do interior mineiro, e mais que isso, potencializar a economia criativa local, gerar emprego e renda e promover produtos fabricados na cidade.

A cidade do Sul de Minas, com cerca de 12 mil habitantes, oferece roteiros que combinam história, gastronomia e hospitalidade, com visitas à vinícola, lagar, alambique e meliponário, onde é possível acompanhar de perto a produção artesanal e vivenciar a rotina dos produtores locais, além de degustar as gostosuras produzidas ali.

Essa é a segunda reportagem da série especial: Encantos da Mantiqueira Mineira, que irá abordar as experiências integraram o roteiro da Press Trip Cidades Históricas da Serra da Mantiqueira, promovida pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult-MG) e pela Codemge, que reuniu comunicadores de todo o país para divulgar os destinos turísticos do Sul do estado.

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O tour pelo alambique da Me Leva permite conhecer o local onde as cachaças são armazenadasO tour pelo alambique da Me Leva permite conhecer o local onde as cachaças são armazenadas

Alambique e Lagar
Nos arredores da Reserva Querubins, em uma das áreas rurais de Andrelândia, está o alambique da cachaça Me Leva, recentemente premiada em 1º lugar na categoria "Cachaça de Alambique Envelhecida", no 1° Concurso de Cachaças de Alambique e Aguardentes de Cana Mineiras, promovido em Belo Horizonte. O produto também tem outras premiações, como o selo Ouro na Expocachaça 2025.

Na visita ao alambique, os turistas podem conhecer todo o processo de produção da bebida, conduzido pelos próprios produtores, que explicam as etapas do cultivo, colheita e transformação dos ingredientes. Também é possível desfrutar cada tipo de cachaça produzida pela empresa, como a cachaça envelhecida em barris de carvalho americano e em carvalho europeu.

“A gente tem buscado parceiros, empórios, principalmente, porque é uma cachaça de valor agregado maior, então o mercado não é tanto nosso foco. Empórios, restaurantes, bistrôs, esse tipo de estabelecimentos”, contou Caio Soares Leite, gerente do alambique, ao falar sobre o público-alvo e expansão da cachaça no mercado.

Caio também comentou sobre os cuidados durante todo o processo de produção e as características que diferenciam a “Me Leva” de outros produtos do ramo.
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As saborosas cachaças fabricadas em AndrelândiaAs saborosas cachaças fabricadas em Andrelândia


“São vários fatores que podem impactar na qualidade da cachaça. Em toda parte [do processo] que a gente trabalha é possível que eu estrague se eu errar a mão, se eu contaminar, em todos os momentos eu posso estragar o produto. Se eu plantar uma cana de boa qualidade, cuidar bem dela, não ter contaminantes, colher da forma correta, armazenar corretamente, não pode ficar no canavial jogada, processar no tempo correto, com boa higiene, isso traz a boa qualidade da cachaça. É a variedade da cana, o manejo dela, o tipo de fermento, a gente usa fermento de quirera com fubá de milho, as leveduras, são principalmente esse tipo de características”, afirmou.

Em frente ao alambique tem a estrutura moderna do lagar Azeite Querubins, que faz o produto a partir das centenas de oliveiras cultivadas em um monte, há poucos metros da fábrica. O clima benéfico, o sol generoso e as terras férteis do lugar favorecem a colheita das azeitonas e, e o modo do processo asseguram aromas e sabores únicos ao azeite. O produto é encontrado na Pousada Querubins e em comércios locais de Andrelândia e começou a ser produzido recentemente, com a primeira safra em 2022.

“A gente trabalhou poucas safras, então eu não tive um volume muito grande para abrir mercado, até evitei para não abastecer e depois não ter como manter, mas tudo que produzia escoava muito rápido. O público queria muito, sabe? Estava correndo atrás, o pessoal estava super interessado, acho que a procura existe e é bem grande. Ainda mais quando degustava, porque é completamente diferente”, avalia Caio, que também nos guiou pelo lagar.

Queijos premiados e da Realeza
Quando se fala da culinária do estado, não tem como não pensar em queijo, em seus derivados e até mesmo em comidas que harmonizam com ele. Andrelândia não foge deste legado mineiro, e o Laticínios Fazenda Generosa garante pódios ao produto fabricado nas terras andrelandenses, como a medalhas de ouro na Expo Queijo 2021 e CNA BRASIL 2022, medalha de prata World Cheese Awards; e Super Ouro Mundial do Queijo 2024.

A fabricação é uma tradição familiar, passada de geração a geração, e que hoje é capitaneada por Joaquim Luiz de Carvalho, advogado de formação e empresário e gestor da Fazenda Generosa.
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Joaquim Luiz apresentou alguns dos produtos fabricados aos jornalistasJoaquim Luiz apresentou alguns dos produtos fabricados aos jornalistas


“Meu pai sempre vendia queijos só aqui na cidade. Algumas pessoas compravam para levar a Volta Redonda, para o sul do estado do Rio. Quando eu assumi em 2019, porque meu pai teve um problema de saúde, eu mudei a roupagem dos queijos, fiz um processo de maturação mais extenso, e eu decidi levar o Lendário para a Expo Queijo, que é um concurso internacional, o mais importante da América Latina, e ele foi medalha de ouro de cara. Depois disso, aí a gente começou a ver mais potencial na nossa queijaria, porque sempre teve muito elogio, mas a gente nunca tinha saído desse mundo aqui”, explicou Quinzin, como é carinhosamente chamado Joaquim.

“Hoje a gente vende para o Brasil inteiro. A gente está em 25 estados do Brasil. Produzimos em torno de 5 toneladas por mês. Meu pai começou com 70 litros de leite, e nossa produção vem aumentando gradativamente, porque a gente tenta manter o mesmo padrão de qualidade e é difícil aumentar de uma hora para a outra. Mas desde a CNA para cá, a gente já cresceu bastante”, continuou o produtor.

O prêmio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) foi realmente um divisor de águas para os produtos da Generosa. Isso porque a instituição organizou a cerimônia de comemoração da coroação do Rei Charles na Embaixada do Reino Unido, em Brasília, para os cônsules e embaixadores do Reino Unido, e serviu “O Lendário”, um queijo autoral, com geleia de açaí brasileira. Um dos organizadores gostou da ideia e levou o produto de Andrelândia para a cerimônia oficial, e se tornou o único queijo brasileiro servido no evento. Além do Lendário, “o queijo mais premiado do Brasil”, são fabricados com receitas originais Quincas Terroir; Lua Negra, que foi lançado esse ano, ainda não participou de concurso, e que é bem amanteigado no interior e possui uma resina negra comestível; o Enigma, queijo também com seis premiações. Também são fabricadas linhas tradicionais, como nozinho, cabacinha, palitinho, além de manteiga e requeijão cremoso 100% puro.
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A plantação de oliveiras que garante a produção do azeite QuerubinsA plantação de oliveiras que garante a produção do azeite Querubins


“A qualidade dos queijos nacionais está em nível de exportação, com toda tranquilidade. Isso muda o paladar do brasileiro. Antes, o pessoal gostava mais do queijo fresco. Hoje, você já vê os queijos de longa maturação sendo mais consumidos, que é um queijo mais potente. Você vai fazer harmonização com vinhos, com cerveja, fazer pratos também, carbonara, por exemplo”, resumiu Joaquim, ao falar sobre a mudança do gosto brasileiro e a maior aceitação por queijos especiais.

Joaquim Luiz também revelou que a partir do próximo ano a cidade deve contar com mais um roteiro turístico, que irá percorrer pela Fazenda Generosa e posteriormente ir à Vinícola ABN, para também degustar os produtos lá produzidos.

Andrelândia também é a terra dos vinhos
“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta”, escreveu Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas. A rotina dos produtores rurais parece acompanhar esse mesmo compasso – marcada por ciclos de paciência, colheita e renovação, que agora encontram no turismo uma nova forma de florescer.

Matheus Valadares
Nas mãos de Joaquim o queijo Lendário servido na coroação do Rei CharlesNas mãos de Joaquim o queijo Lendário servido na coroação do Rei Charles

É o caso da vinícola ABN, que já chegou a ter 25 mil pés de uvas, que dava em média 9 mil toneladas por ano, que gerava até 7 mil garrafas de vinho, no entanto, ainda na década passada uma chuva de granizo destruiu grande parte do parreiral, e desde então, um grande e contínuo processo tem sido feito para recuperar o patamar de produção.
Atualmente, a vinícola dispões dos vinhos cabernet sauvignon, syrat e merlot, além do vinho de jabuticaba e do saboroso e enigmático “Assombroso”, uma mistura de vinho com cachaça, mel e plantas aromáticas do cerrado. Os produtos variam entre R$40 e R$400 de acordo com a safra e o tempo de reserva.

Niclodênio da Silva, gestor da ABN, conta que o espaço foi idealizado pelo húngaro Istvan Karoly Kasznar, professor titular de Economia, Administração Pública, Administração de Empresas e Negócios na FGV, no Rio de Janeiro, e que encontrou em Andrelândia, por meios de estudos, um solo parecido com o da França, o que motivou a construir a vinícola em uma área rural do município. “Estamos em uma área alta e arejada, que tem as características para produzir um bom vinho o ano inteiro”, explicou Niclodênio. Além disso, o gestor e produtor de vinhos pontuou que o terreno andrelandense é menos ácido que o francês, o que ressalta características mais doces em seus produtos.
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A venda dos vinhos da ABN ainda se limita à região do Sul de Minas. A vinícola também recebe a visita de turistas sob agendamento, das 8h às 16h, pelo valor de R$ 50. O visitante tem a possibilidade de degustar das bebidas, entender sobre o processo e conhecer o parreiral que dá vida ao vinho. Também é produzido festivais no terreno, que dispõe de uma pousada, como a Noite de Vinhos e Queijos.
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Niclodênio é o responsável pela produção dos vinhos da ABNNiclodênio é o responsável pela produção dos vinhos da ABN


Meliponário
Andrelândia também tem o meliponário “mais bonito do Brasil” há cerca de 2,5 quilômetros do centro histórico. Com caixas coloridas, áreas de pomar e até poço de peixe, o espaço concentra 36 espécies de abelhas nativas e sem ferrão, incluindo as subterrâneas e as aquáticas. Ao todo, são 250 colônias de abelhas sem ferrão,
Dentre as espécies, têm a lambe-olhos, menor abelha do mundo; e a mombucão, considerada a mais rara e com o mel mais saboroso. Uma colônia pode custar até R$ 15 mil. Robson Neto, de apenas 14 anos, atua como guia do local e explica as características de cada espécie e processo de produção no local. Para ele, a região é privilegiada para esse tipo de cultivo. “Estamos em uma das regiões mais abençoadas para as abelhas. É uma das regiões mais biodiversas para as abelhas sem ferrão do Brasil”, afirmou o adolescente, que é fascinado pelo mundo das abelhas.
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Um dos produtos feitos pelas artesãs em AndrelândiaUm dos produtos feitos pelas artesãs em Andrelândia


Além de beneficiar e vender mel e própolis, o meliponário Mel Mágico também comercializa o Hidromel, um produto alcoólico e conhecido como a bebida mais antiga do mundo, fermentada feita a partir de mel, água e levedura.

Fundação Guairá
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Robson Neto, 14 anos, é o guia do meliponário e ajuda na produção de melRobson Neto, 14 anos, é o guia do meliponário e ajuda na produção de mel

O Casarão da Fundação Guairá, no centro histórico da cidade, abriga o projeto Cerâmica Guairá e o Arte Café. O programa de artesanato é voltado tanto para a preservação da técnica artesanal da cerâmica quanto para a geração de renda e empreendedorismo comunitário, capacitando moradores locais através de workshops, o projeto já formou diversos bolsistas que, hoje, não apenas produzem peças exclusivas, mas também estão habilitados a ensinar esta arte a novos aprendizes.

As peças criadas pelos ceramistas são vendidas no próprio Arte Café, e o projeto incentiva a autonomia econômica, proporcionando oportunidades para que essas pessoas transformem suas vidas por meio do ofício da cerâmica.
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“Foi abrindo bolsas de estudo e hoje as 20 bolsistas dão aula e fabricam peças aqui e uma parte dessa renda é revertida para elas, então é um projeto que a gente vem tentando fortalecer”, explicou Raquel Ribeiro, coordenadora do Casarão.

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Aos poucos, a vinícola ABN tenta recuperar o patamar de produção de vinhosAos poucos, a vinícola ABN tenta recuperar o patamar de produção de vinhos

A fundação também mantém a Reserva Querubins, uma charmosa pousada e um verdadeiro refúgio integrado à natureza. O local oferece acomodações confortáveis e um ambiente de tranquilidade, a Reserva proporciona uma experiência autêntica de hospitalidade mineira e promove o turismo sustentável, fortalecendo a economia local e respeitando as riquezas ambientais da região. No espaço é possível ver diversos tipos de aves, como a arara-azul, além de ter acesso a cachoeiras. Todo recurso adquirido por meio da estadia é revertido nos projetos da fundação, como as bolsas de artesanato


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