10 de dezembro, de 2025 | 08:00
Ufop inundada em Ouro Preto: Ameaça climática em ação
Antonio Nahas *
O Departamento de Geologia e o Departamento de Nutrição da UFOP foram alagados pela água da chuva no dia 4/12. E não foi a primeira vez. A reitoria informou que isso sempre ocorre, pelo fato da drenagem urbana ser insuficiente e não conseguir fazer fluir toda a água, quando chove forte.
E aí a gente pergunta: se alagamentos ocorrem num campus universitário, onde existem professores, doutores, cientistas das mais diversas áreas, o que então pode acontecer com quem vive próximo a ribeirões, no alto dos morros, ou em outros lugares que podem ser atingidos por chuvas, inundações, secas, altas temperaturas, variações climáticas? Como é que a gente fica nessa?
Para alertar, prevenir e orientar, o Ministério das Cidades fez um documento muito interessante, chamado Cidades e Ação Climática: Cartilha para Estados e Municípios. Didático, fácil de ler e muito bem fundamentado, ajuda muito a traçar uma linha de ação para fazer face a estes desafios.
Começa com uma indagação interessante: O que é risco climático? E a cartilha constrói o conceito de forma criativa. O primeiro passo é saber quais ameaças climáticas existem nas cidades ou localidades analisadas. Ameaças são aquelas ocorrências que podem ter sido geradas pela natureza ou por nossas próprias ações, as quais podem causar danos ou perdas humanas. E outros fatores podem repercuti-la, tais como deficiência na informação; deficiência na infraestrutura e serviços urbanos (ruas estreitas; drenagem insuficiente; mobilidade reduzida; residências em área de risco); deficiência na circulação de informações a tempo e a hora para prevenir eventos climáticos e a falta de treinamento e capacitação das equipes da Defesa Civil dos municípios.
Para saber quais ameaças podem ocorrer basta olhar o passado de cada uma das cidades: inundações; queimadas; deslizamentos; elevação de temperaturas. Uma coisa é certa: vão voltar a ocorrer. O que vimos em Ipatinga em janeiro deste ano, com chuvas extremas, deslizamentos, inundações, quando o município decretou Estado de emergência, vai voltar a ocorrer. E de forma mais aguda.
O primeiro passo é saber quais ameaças climáticas existem nas cidades ou localidades analisadas”
Junto à identificação das ameaças, outro ponto: qual a população é vulnerável a elas? Quem pode ser atingido e de que forma?
A cartilha frisa que os grupos mais vulneráveis são a população que vive em vilas em favelas; população de rua; pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, crianças e idosos.
Sabendo então quais são as ameaças existentes nas cidades e quais são os grupos vulneráveis chegamos então a mais uma conclusão: exposição. Em cada cidade, em cada localidade, exatamente quais parcelas da população estão expostas às ameaças? Onde se localizam e a quais ameaças se sujeitam?
Chegamos então ao conceito de risco climático: Risco climático: potencial de consequências adversas (ou impactos) para sistemas humanos ou ecológicos.
Risco climático é tudo que pode advir - perdas humanas; materiais; desmoronamentos; destruição de vidas, instalações elétricas; paralisação da vida das cidades; epidemias e tudo o mais.

E o último passo: se já localizamos os riscos e eles não forem evitados através de ações preventivas, o que irá acontecer? Desastres climáticos. Tragédias. Mortes e destruição previstas mas não evitadas.
Ameaças são aquelas ocorrências que podem ter sido geradas pela natureza ou por nossas próprias ações, as quais podem causar danos ou perdas humanas”
Voltando ao caso da Ufop se já ocorreram vários alagamentos no passado, outros virão. Cada vez mais agudos. Infiltração de água vai ocorrer. E o futuro pode reservar tragédias que poderiam ser evitadas. O conhecimento por si não basta; tem que ser transformado em ação.
No caso das localidades, cidades, regiões, estados, a mesma coisa se repete. E para prevenir e ajudar a planejar foi feita a Cartilha, que mostra exemplos de ações de prevenção realizadas em diversas cidades do país. Informação e Conhecimento; Planejamento, Gestão e Governança ocupam o primeiro lugar entre os passos a serem seguidos.
A cartilha fornece elementos importantes para a ação. Pode ser utilizada tanto para os vereadores proporem leis, quando para os gestores públicos conhecerem as prioridades climáticas estabelecidas pelo Governo Federal e traçarem planos e projetos de ação para os municípios. E, também para sintonizar os municípios com as linhas de financiamento da COP 30. Apresentamos apenas um pequeno resumo. A cartilha é rica em exemplos, conceitos, sugestões, planos. Vale a pena a leitura.
Link de acesso: capacidades.gov.br.
* Economista, empresário. Na luta pela Justiça Climática e sustentabilidade do Planeta
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