19 de dezembro, de 2025 | 08:00
Entre o corte e a técnica do limão
Abner Benevenuto Araújo Paixão *
Falar sobre cortar um limão pode parecer banal, mas quem trabalha atrás de um balcão sabe: é aí que começa o ofício do bartender. O corte do limão é mais do que um gesto automático - é uma decisão técnica, estética e até filosófica. Ele determina o sabor, a eficiência e a identidade de um drink.
Muita gente acredita que o amargor vem da parte branca do limão. Mas o que realmente amarga é o quanto você macera a casca. Quando se pressiona demais, libera-se o óleo essencial e o gosto fica pesado. Por isso, na caipirinha, os gomos são colocados com a polpa voltada para cima - assim o macerador toca mais o suco e menos a casca, garantindo equilíbrio e frescor.
A forma como se corta o limão muda tudo: o tempo de preparo, o rendimento e até a aparência no copo. Um corte bem feito facilita o trabalho, economiza tempo e evita desperdício. Isso vale tanto para um bar profissional quanto para quem prepara um drink em casa e no churrasco com os amigos.
O valor não está no preço, mas na consciência de quem prepara”
E aqui está um ponto importante: não é preciso ter ferramentas caras para fazer um bom coquetel. O segredo não está na faca importada ou no macerador de design - está em entender o gesto, o propósito e o porquê de cada movimento. A técnica supera o equipamento.
Antes mesmo de pensar na medida ou no dosador, é essencial entender o copo. O copo define o tipo de corte, o tamanho do gelo e a proporção do líquido. O mesmo drink servido em dois copos diferentes pode parecer outro. Entender o copo é entender a receita antes de começar. E isso exige olhar técnico e sensibilidade - porque coquetelaria é tanto ciência quanto arte.
Nos bares de evento, essa consciência se transforma em eficiência. O corte certo permite que uma mesma fatia de limão sirva para um shot, uma guarnição ou uma caipirinha completa. É o tipo de detalhe que mantém o ritmo do trabalho e ainda valoriza a apresentação. O corte, quando bem pensado, comunica profissionalismo e propósito.
O que realmente amarga é o quanto você macera a casca do limão”
No Brasil, temos abundância de frutas cítricas, e talvez por isso não percebemos o quanto elas são valiosas. Em países como a Rússia, o limão é caro e usado com cuidado quase cerimonial. Essa diferença cultural ensina algo importante: o valor não está no preço, mas na consciência de quem prepara.
No fim, entender o corte do limão é entender o ofício inteiro. É pensar antes de agir, sentir antes de servir. É saber que cada gesto tem um motivo e que cada drink é, de certa forma, uma extensão de quem o prepara.
A coquetelaria começa antes do dosador - começa no olhar de quem entende o copo, a fruta e o propósito.
* Bartender da região do Vale do Aço, com experiência em bares e eventos.
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Gildázio Garcia Vitor
19 de dezembro, 2025 | 08:26Muito interessante! Parabéns! Você é muito bom!
Mas continuo não sabendo como devo cortar o limão. Além disso, "Quando a vida me oferece limões, faço uma 'lemonade!'"”