24 de dezembro, de 2025 | 07:00
PIB de Ipatinga está caindo?
Antônio Nahas Júnior *
O Diário do Aço publicou excelente reportagem sobre a evolução do PIB do Vale do Aço, ressaltando a diminuição do PIB, em valores absolutos, no biênio 2022/2023, para os municípios de Ipatinga e Timóteo. A queda do PIB de 2023 em relação a 2022 retirou Ipatinga do seleto grupo das cem cidades mais ricas do país. Em Minas Gerais, fomos superados pelo município de Extrema, localizado no sul do estado, e rebaixados para a oitava colocação. Esta queda atingiu também Timóteo, cujo PIB apresentou variação negativa quase tão importante quanto a de Ipatinga. Em termos percentuais, o PIB de Timóteo caiu até mais.
A redução do PIB é um indicador importante, e temos que refletir sobre isso. Certamente, a riqueza gerada no município cai. Mas é bom que se diga: o PIB de uma cidade não indica necessariamente a riqueza que nela circula. Uma cidade pode gerar um PIB bem grande, mas reter apenas uma parcela da renda gerada.
Isso porque, quando falamos de renda, o PIB significa: juros, lucros, impostos, salários e aluguéis. Esta é a riqueza gerada em um ciclo produtivo, normalmente um ano. Vamos pegar o caso de Ipatinga: a principal empresa, Usiminas, divulga sempre em seu balanço o valor adicionado gerado no ano considerado. No balanço de 2023, esse valor foi bem grande: R$ 5,8 bilhões. Essa seria a contribuição da Usiminas para o PIB. Mas os impostos foram de R$ 3,86 bilhões, e boa parte deles - quase tudo - vai para o governo estadual: R$ 3 bilhões.
A lucratividade foi ótima: R$ 1,39 bilhão. Ainda foram pagos R$ 893 milhões de juros. Já os salários, sem os encargos, representaram R$ 888 milhões, ou 15,35% do valor adicionado total. Vendo esses números, podemos perceber claramente que a Usiminas gera riqueza para todo o país: bancos, sócios, governo e seus recursos humanos. E que os juros, dividendos, lucros e parte dos impostos vão se realizar fora da cidade. Apenas os salários e o pagamento a fornecedores compõem realmente a riqueza local.
Procurar caminhos para a construção de um futuro sustentável é decisivo”
Sendo assim, temos que ver os números publicados sobre o PIB com certo cuidado. Trata-se de um indicador de riqueza gerada, é verdade. Mas ter um PIB grande não significa que a cidade é ou está rica.
Este fenômeno fica ainda mais evidente nas cidades mineradoras, que compram máquinas e equipamentos de outros locais, contratam muitas vezes mão de obra também de fora da cidade e ainda vendem ou exportam seus produtos. Essas cidades apresentam PIB imenso, mas a riqueza contida é pequena.
No caso de Ipatinga e Timóteo, isso também acontece, mas de forma menos intensa. A economia da região já apresenta boa diversificação, com o crescimento dos setores educacional e de saúde. O setor de serviços, por ser intensivo em mão de obra, apresentar boa diversificação e grande número de prestadores, é considerado pelos especialistas um grande retentor de renda nas cidades.
Importante ainda: nas cidades onde uma grande empresa tem peso decisivo na formação do PIB - Ipatinga incluída -, as variações no faturamento ou na lucratividade dessa empresa, sejam elas decorrentes de retrações econômicas, impostos e taxas, elevações de preços ou mudanças tecnológicas, alteram de forma significativa a composição do PIB da cidade. Tais flutuações são normais e até mesmo esperadas.
Cabe aos prefeitos e vereadores ter em mãos essas informações e tornar possível e eficaz o diálogo permanente com o setor produtivo local, responsável pela maior parte do PIB.
IBGE e estimativas - Outro fator que devemos ver com certo cuidado são as simulações e tendências divulgadas pelo IBGE. Até onde pudemos ver, após muitas tentativas, o IBGE não levantou dados de 2022 e 2023. Suas pesquisas se encerraram em 2021. Quando procuramos no site os dados desagregados do PIB para esses anos, a linha dos gráficos vai a zero, indicando que não houve trabalho de campo.
De toda forma, isso não invalida as informações recolhidas. De fato, o PIB das duas cidades caiu, retratando a desaceleração da indústria em Minas Gerais e em todo o Brasil.
Apenas os salários e o pagamento a fornecedores compõem realmente a riqueza local”
Trata-se de um fenômeno que vem acontecendo há muito tempo, mostrando que a indústria brasileira está decrescendo. Por isso, as observações feitas na reportagem do Diário do Aço são tão importantes.
Vemos que a Usiminas fez investimentos importantes em meio ambiente e tecnologia, atualizando sua coqueria e firmando parcerias relevantes com o MPMG, o que a levou a fazer investimentos de alto valor social no meio ambiente. Agora, surgem novos desafios, relacionados à redução das emissões de CO2 e até mesmo à diminuição do uso de fontes fósseis de energia.
Por outro lado, os investimentos feitos em logística, sobretudo a duplicação da BR-381, abrem novos horizontes para o crescimento do Vale. Procurar caminhos para a construção de um futuro sustentável é decisivo. Nossa região precisa dessa reflexão. Novamente, parabéns ao Diário do Aço.
* Economista, empresário. Na luta pelo desenvolvimento sustentável do Vale do Aço.
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Rodrigo Machado
24 de dezembro, 2025 | 09:01Bom dia.
Excelente, como sempre Antônio Nahas.
Como dizia a saudosa Maria Conceição Tavares :
ninguém come PIB!! Isso não é critério de bem-estar- social.
O PIB da Rússia cresceu quase 10% nos últimos 3 anos( indústria de guerra) e matou quase 1.000.000 de jovens!”
Tião Aranha
23 de dezembro, 2025 | 16:54Das 20 cidades mais ricas do Estado, Ipatinga está no oitavo lugar, Timóteo não entrou entre elas. Tb pudera, neste último mandato de prefeito a geração de empregos foi zero. Emprego aqui só acha em supermercados, BH e Coelho Diniz, pra ganhar salário mínimo. Rs.”