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25 de dezembro, de 2025 | 08:45

Economia real cresce em Coronel Fabriciano e encolhe em Ipatinga, aponta estudo

Arquivo DA
Coordenador estatístico calculou a variação da riqueza que efetivamente permanece fixada no territórioCoordenador estatístico calculou a variação da riqueza que efetivamente permanece fixada no território

Por Matheus Valadares - Repórter Diário do Aço

A economia nas cidades da Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA) tiveram movimentos diferentes. Enquanto Ipatinga teve uma retração significativa, os outros três municípios apresentaram crescimento, com destaque para Coronel Fabriciano. Um levantamento feito pelo Observatório das Metropolizações do Vale do Aço e enviado com exclusividade ao Diário do Aço, revela que a economia real no território fabricianense cresceu 14,40%, enquanto em Timóteo e Santana do Paraíso cresceram 9,55% e 8,06%, respectivamente. Já Ipatinga teve uma perda de 7,62%.

Os dados refletem o Produto Interno Real (PIR) de 2023, indicador que mede o crescimento da economia real, ou seja, a riqueza que efetivamente permanece fixada no território. Diferentemente do Produto Interno Bruto (PIB), que contabiliza o valor total dos bens e serviços finais produzidos, o PIR busca identificar quanto dessa riqueza permanece nos municípios e passa a movimentar a economia local.

O cálculo foi coordenado pelo geógrafo e estatístico William Passos, que explica que o PIB não reflete, necessariamente, a dinâmica econômica vivenciada pela população.

“Fabriciano apresentou um crescimento expressivo de 14,40%. Só a título de comparação, o Brasil no ano de 2023, cresceu 3,2%. O PIB do Brasil no ano de 2023 cresceu 3,2%. Não estou falando do produto interno real, mas do PIB. O PIB brasileiro cresceu 3,2%. Enquanto que o produto interno real de Coronel Fabriciano cresceu 14,40%. Então, é um crescimento bastante significativo”, avalia Passos.

Colar Metropolitano
Também foi calculado o PIR de Caratinga e Belo Oriente, as principais economias do Colar Metropolitano. Caratinga apresentou crescimento de 9,52%, enquanto Belo Oriente registrou a maior retração entre os municípios analisados, com queda de 35,28%.

“E o que que a gente observa? Que enquanto a economia de Caratinga cresceu a uma taxa muito próxima à taxa de Timóteo, 9,2 pontos percentuais, o município de Belo Oriente teve uma retração bastante significativa, muito maior que a retração de Ipatinga. Mais de quatro vezes superior à retração de Ipatinga em termos de pontos percentuais, porque teve uma retração de 35,28% no ano de 2023, o que também ajuda a explicar a situação de dificuldade do Vale do Aço no que diz respeito, entre outros, a geração do emprego com carteira assinada”, acrescentou o pesquisador.

PIB e PIR
Conforme já divulgado pelo Diário do Aço, em 2023, o PIB de Ipatinga foi de R$ 16.870.239 bilhões. Timóteo foi o segundo município melhor colocado em 2023, com o PIB avaliado em R$ 4,6 bilhões. Coronel Fabriciano teve o PIB em R$ 2,3 bilhões em 2023; Santana do Paraíso produziu uma riqueza de R$ 1,2 bilhão; Belo Oriente teve PIB de R$ R$ 2,3 bilhões em 2023; e Caratinga teve o PIB avaliado em R$ 2,8 bilhões. Porém, William Passos faz uma ressalva em relação aos números.

“Nem tudo que é produzido dentro de um território fica ali, ou seja, toda a produção da Usiminas é vendida, vai para outro município, e com as outras indústrias também. O que é que acontece? O que é que fica em Ipatinga? Ficam os salários que a Usiminas paga para os funcionários. Ficam os impostos que a Usiminas paga. Isso é o que fica no território, e é esse dinheiro que acaba movimentando a economia de Ipatinga e fazendo a economia crescer, porque esse salário pago para os funcionários vai ser usado para consumir. Esse consumo vira faturamento no comércio, no setor de serviços, e parte desse faturamento é usado para poder pagar funcionários dessas empresas que se beneficiaram do consumo dos funcionários da Usiminas”, analisa.

Metodologia
Para medir esse movimento, o Observatório aplica uma metodologia alternativa, baseada principalmente no emprego com carteira assinada. “O Observatório das Metropolizações apresenta essa metodologia alternativa que não foi criada pela gente, mas a gente aplica. Ela é uma criação da rede de observatórios do trabalho que reúne pesquisadores do Brasil inteiro, e eu também faço parte dessa rede e a gente se reúne uma vez por mês. São pessoas do Brasil inteiro que trocam experiências e a gente foi discutindo essa metodologia ao longo de mais de dois anos, e a gente chegou à conclusão de que é possível, através do emprego com carteira assinada, calcular o crescimento real da economia. O crescimento que a gente vê, que existe de fato, que mostra a riqueza que é fixada no território que é aquilo que a contagem do PIB não mostra”, enfatiza.

Economia local
William Passos ressalta que distorções semelhantes podem ser observadas em municípios com forte presença de atividades extrativas ou industriais. “A gente viu na matéria anterior do Diário do Aço que dos municípios que tiveram maior variação na contagem do PIB, e o ranking é formado por Maricá, Niterói, Saquarema, no Rio de Janeiro, Ilhabela, em São Paulo, Campos dos Goytacazes, do Rio de Janeiro também, mas todos esses municípios são produtores de petróleo. E o PIB de todos esses municípios, na sua maior parte, é formado pela produção do petróleo no mar. Então, não é aquilo que a gente encontra na economia real desses municípios, não é aquilo que a gente vê quando a gente vai para esses municípios”, explica.

William reforça a importância de uma leitura mais precisa da economia local. “Por isso que é muito importante a gente ter uma contagem alternativa para que a gente possa observar de verdade de tudo que é produzido, de toda a riqueza, de todos os bens e serviços finais que são produzidos, o que de fato fica no território. Porque assim como acontece no caso dos municípios produtores de petróleo, a gente pega os municípios siderúrgicos, por exemplo, a gente não fica com a totalidade dessa produção no território, por quê? Porque essa produção é vendida para outras cidades e o que acaba ficando no território é exatamente, como eu disse anteriormente, basicamente os empregos, os salários, e os tributos que são pagos pelos empregadores”, conclui.

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