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07 de dezembro, de 2021 | 14:28

De lendas, realidade e desejos...

Nena de Castro *

Conta uma lenda da Amazônia que, bem na hora em que a lua nasce, aparece o urutau. Conhecido também como Mãe da Lua, seu canto é triste e melancólico. Os ribeirinhos se benzem, temerosos de que seja má-notícia, de que algo muito ruim tenha acontecido ou alguém da família tenha morrido...Embora algumas pessoas o considerem poético, a maioria não gosta de ouvir tal canto, há um sortilégio, uma coisa triste e dolorosa que chega aos que ouvem...

Pois bem, a lenda se baseia em uma jovem princesa de uma tribo indígena, cujo pai era, além de cacique, praticante de encantamentos e outros que tais, tendo poderes de vida e morte.

A menina se apaixona por um guerreiro da tribo e ele também a amava. No entanto, o pai não aprovou o romance e ao ver que debalde seus esforços o namoro continuava, resolveu atrair o jovem para uma armadilha na floresta e o matou. A moça deu por falta de seu amado e não o encontrando, saiu pela floresta e descobriu o corpo. Revoltada, voltou à tribo e encarou o pai, dizendo que contaria o acontecido para todos. Para evitar tal problema, o cacique conjurou um feitiço que transformou a filha em pássaro. E a voz da menina se fez ouvir num canto triste que ecoava à noite, parecendo dizer: “foi, foi, foi”.

Lendas à parte, confesso que estou sentindo dificuldades em escrever minhas crônicas: não que me faltem palavras ou causos pra contar, ocorre que os tempos estão tão ruins que só quero escrever sobre a ansiedade, a tristeza que nos toma, a dificuldade de sobreviver ante os preços descontrolados administrados por um governo inábil que nos deixa no fu do zé estevão a cada dia, as notícias arrepiantes sobre uma variante mais feroz ainda, a ômicron e tudo o mais que acontece por aí...

Ah, eu quero ar limpo para respirar sem máscara, risos nos parques e ruas, música nos ares, fartura, o fim do medo e até um fiapo de esperança me consola.

Que o urutau continue a cantar à noite, mas que possamos acordar todas as manhãs envolvidos por doces raios de sol e sons de pássaros que cantam a alegria... E nada mais digo. Au revoir!

* Advogada, escritora e Encantadora de Histórias

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Comentários

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Tião Aranha

07 de dezembro, 2021 | 20:33

“? preciso buscar a alegria nestas coisas pequenas que o mundo não vê. Risos.”

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