03 de novembro, de 2023 | 05:41
Pela 1ª vez, brasileiros que estavam na Cisjordânia são resgatados
Daniella Almeida - Repórter da Agência BrasilMarcelo Camargo/Agência Brasil
Aronave saiu de Aman, na Jordânia, país vizinho a Israel, após negociações diplomáticas realizadas pelo Ministério das Relações Exteriores

A aeronave VC-2 (Embraer 190), cedida pela Presidência da República, que pousou na manhã desta quinta-feira (2) na Base Aérea de Brasília, foi a nona que regressou ao Brasil pela Operação Voltando em Paz, do governo federal, desde o início das hostilidades no Oriente Médio. Mas, foi a pioneira a trazer cidadãos brasileiros resgatados do território palestino da Cisjordânia. Os outros oito voos anteriores da Força Aérea Brasileira (FAB) repatriaram brasileiros que estavam em Israel.
Neste último voo da missão brasileira, os passageiros transportados partiram, na quarta-feira (1º), de Aman, na Jordânia, país vizinho a Israel, após negociações diplomáticas realizadas pelo Ministério das Relações Exteriores.
Dos 32 passageiros, 30 são brasileiros e, ainda, há um palestino e uma jordaniana, casados com brasileiros. Deste total de transportados, 12 são homens; 9 são mulheres e 11 são crianças. Entre os adultos, seis são idosos, dois deles cadeirantes, que receberam ajuda para descer da aeronave. Na chegada, o grupo acenou com bandeiras do Brasil e da Palestina.
Apenas uma passageira permaneceu em Brasília. As demais famílias repatriadas terão outros destinos finais. Das seis pessoas que desembarcaram na escala feita no Recife (PE), às 5h35 da manhã, três pessoas ficaram na capital pernambucana e três seguiram para Fortaleza (CE).
A partir da capital federal, oito pessoas viajarão para Foz do Iguaçu (PR); cinco irão a São Paulo (SD); quatro, a Florianópolis (SC); três, Rio de Janeiro (RJ); dois, em Curitiba (PR); dois, em Goiânia (GO); e um para Porto Alegre (RS).
Resgatados
A Agência Brasil conversou com alguns desses passageiros no desembarque, na capital federal, antes deles voarem para outros estados, até o fim do dia.
O primeiro a descer do avião e segurar um dos lados da bandeira do Brasil, Jalil Abdel, de 70 anos, contou que a guerra entre Israel e Hamas foi iniciada no momento em que ele fazia a visita anual à família na cidade de Ramala. Apesar de voltar em segurança ao Paraná, Jalil confessa que continua preocupado com os parentes que permaneceram na Cisjordânia. Minha filha e minha esposa estão lá. Fico preocupado pela repressão que a gente tem lá. Muita repressão.”
Na outra ponta da bandeira verde e amarela, outro resgatado contemporâneo de Jalil, também com 70 anos, o palestino Mahmoud Abdel Aziz, sentiu que estava correndo perigo naquele território. Agora, Mahmoud sente gratidão por ter voltado ao Brasil, depois de uma temporada de seis meses na Cisjordânia. É muito gostoso, é bom demais. Graças a Deus, que a gente tem a honra de ser brasileiros. Nós somos brasileiros. Agradecemos muito à nossa pátria, ao nosso pessoal, à Marinha, às Forças Armadas.”
Ao lado do avô, o brasileiro Mohammed Mahmoud, de 11 anos, voltará a Foz do Iguaçu (PR), após sair da casa que a família deixou na Cisjordânia. Voltar para o Brasil é muito legal. Aqui, fico com meu pai, meu avô e minha avó”.
Outro palestino, Mahmoud Salim, de 43 anos, retornou com os filhos de 15, 13 e 7 anos e a esposa jordaniana, naturalizada brasileira, após ter passado dois anos em Ramala. O palestino conta que foi visitar familiares em outra cidade da Cisjordânia e não conseguiu retornar para casa. Pesou para a decisão de Mahmoud de voltar a São Paulo, onde já morou por oito anos, a piora da situação na Cisjordânia, desde o início do conflito na região. Se você quiser passar para outra cidade, está perigoso. Ao lado da minha casa, jogaram bombas, balearam o pescoço de um cara. Perdi dois amigos. Agora, lá, está difícil. Eles colocam o [posto de] controle na saída e, às vezes, batem no pessoal por nada.”
"Se o consulado [do Brasil] não ajudasse a gente, nunca passaríamos na fronteira. A gente passou na fronteira da Jordânia porque estava no carro do consulado à frente do ônibus e eles passaram a gente no controle. Fiz contato com a embaixada e falei estou com medo, está perigoso e preciso voltar do Brasil logo, porque estou com medo, e pela minha criança”, descreveu Mahmoud Salim.
Já Amer Azis, de 40 anos, voltará a Foz do Iguaçu (PR), acompanhado dos quatro filhos, após ter ficado dois meses na Cisjordânia, onde os filhos moravam. No colo de Amer, o pequeno Tarek e a esperança de melhores dias. Depois que a gente passou tudo lá, com o que está acontecendo e sendo visto por todos, a situação ficou bem complicada. Mas, vamos ver, se Deus quiser, a situação vai melhorar para poder voltar a ter uma segurança maior. Porque, hoje, está complicado. Se acalmar, poderemos voltar. Se não acalmar, vou ficar aqui [no Brasil].
A única passageira que vai morar no Distrito Federal, Nazmieh Mohamed, de 72 anos, foi recebida pelos filhos, no desembarque tradicional do Aeroporto de Brasília. Ela relatou muito medo. "Tem muito brasileiro na Faixa de Gaza e ninguém está seguro lá". Entrevista foi dada à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom).
Assistência médica e psicológica
Antes do pouso, o tenente-coronel Garcez, da FAB, informou sobre a situação de vulnerabilidade emocional de alguns passageiros vindos da Cisjordânia, pelo fato da região também ter sofrido com ataques militares e restrições. Então, é uma condição até um pouco diferente do pessoal que veio de Tel Aviv [Israel]. E não tão crítica como a situação do pessoal que está em Gaza”, descreve.
Por isso, durante o voo, os passageiros vindos da Jordânia, tiveram assistência médica e psicológica de profissionais da FAB. A bordo, foram realizadas 13 consultas entre médicas e psicológicas, devido a existência de pessoas com comorbidades (doenças) prévias, que requeriam cuidados especiais.
Do ponto de vista psicológico, o atendimento junto a alguns passageiros resgatados que necessitavam de assistência foi feito para aliviar a ansiedade, e dar perspectivas que não os lembrassem o conflito da região. Para desvincular os passageiros do ambiente da guerra, a aeronave ainda promoveu espaços lúdicos para as crianças desenharem com brinquedos e blocos de montar.
O capitão médico da Força Aérea Brasileira, Gustavo Messias Costa, que fez parte da tripulação descreveu a prestação da assistência com foco no bem-estar e saúde mental de passageiros e tripulantes. Foi fundamental também a equipe contar com a presença de uma psicóloga a bordo. Esse trabalho multidisciplinar foi fundamental durante essa missão”.
Brasília (DF), 02/11/2023 - O capitão médico Gustavo Costa, que acompanhou brasileiros e familiares resgatados na Cisjordânia e chegaram a Brasília em voo da Força Aérea Brasileira. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Médico Gustavo Costa acompanhou brasileiros Marcelo Camargo/Agência Brasil
O capitão médico ficou emocionado ao relatar que se sente honrado por cumprir os juramentos feitos quando se tornou médico e quando entrou nas forças armadas. Para mim, não tem preço. Não vai ter qualquer coisa material no mundo que me traga essa sensação de ver uma criança sorrindo, um idoso chegando e falar que essa terra é maravilhosa para ele, que aqui a gente tem paz, que aqui a gente tem condições de viver com futuro”, revelou Gustavo Costa.
Balanço
Com o pouso da nona aeronave VC-2 (Embraer 190), são 1.445 passageiros e 53 pets resgatados em voos que já regressaram ao Brasil.
As aeronaves que já pousaram no Brasil são:
De acordo com a FAB, a aeronave VC-2 (Embraer 190), cedida pela Presidência da República, retornou ao Brasil para manutenção rotineira que estava previamente agendada. No lugar, outro avião de mesmo modelo foi para o Cairo (Egito) e, no momento, aguarda autorizações para resgatar brasileiros que estão na Faixa de Gaza.
Ainda não há previsão de pouso no Brasil desta décima aeronave. Até o momento, na lista dos mais de 576 estrangeiros autorizados a deixar Gaza, não há brasileiros.
O governo brasileiro já doou purificadores de água portáteis; kits de medicamentos; insumos; e mantimentos para assistência humanitária, aos brasileiros moradores de territórios palestinos.
Israel afirma que cercou cidade de Gaza e escalada da violência aponta genocídio
Nesta quinta-feira (2), um balanço mostra que forças de Israel avançaram na Cidade de Gaza - a principal cidade da Faixa de Gaza - em sua ofensiva contra o Hamas. A informação foi divulgada pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
A cidade no norte da Faixa de Gaza tornou-se foco do ataque de Israel, que prometeu aniquilar a estrutura de comando do grupo islâmico palestino e ordenou que civis fugissem para o sul.Estamos no auge da batalha. Tivemos sucessos impressionantes e passamos da periferia da Cidade de Gaza. Estamos avançando”, afirmou Netanyahu sem dar mais detalhes.
O brigadeiro-general Iddo Mizrahi, chefe dos engenheiros militares de Israel, afirmou que as tropas estavam em um primeiro estágio de abertura de rotas de acesso em Gaza, mas estavam encontrando minas e armadilhas. O Hamas aprendeu e se preparou bem”, disse.
Soldados do Hamas e da aliada Jihad Islâmica emergiram de túneis para atirar contra tanques e depois desapareceram novamente, segundo moradores e vídeos dos dois grupos.
Ataques sem trégua ainda impedem chegada de ajuda humanitária
Com pedidos internacionais para uma pausa humanitária às hostilidades sendo ignorados, não houve trégua para o sofrimento dos civis palestinos, com especialistas da ONU dizendo que eles estão sob grave risco de genocídio”.Civis palestinos sofrem com escassez de alimentos, combustível, água potável e remédios.
Água está sendo usada como uma arma de guerra”, disse Juliette Touma, porta-voz da agência da ONU para refugiados palestinos, a UNRWA."Estamos ficando doentes"Em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, Rafif Abu Ziyada, de nove anos, disse que ela estava bebendo água suja e tendo dores no estômago e de cabeça.Não há gás para cozinhar, não há água, não comemos bem. Estamos ficando doentes”, disse.
Há lixo no chão e o lugar inteiro está poluído.”Antes de viajar para o Oriente Médio nesta quinta-feira, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que discutiria passos concretos para minimizar os danos aos civis em Gaza, após afirmar anteriormente que eles estavam carregando o fardo do conflito.Mais de um terço dos 35 hospitais de Gaza não estão funcionando, e muitos deles foram transformados em campos improvisados de refugiados.A situação é além de catastrófica”, afirmou a caridade Auxílio Médico para Palestinos, descrevendo corredores lotados e muitos médicos que estão em luto e desabrigados.
Continuamos convencidos que o povo palestino está sob grave risco de genocídio”, afirmaram sete relatores especiais da ONU em um comunicado em Genebra.Exigimos um cessar-fogo humanitário para garantir que o auxílio chegue aos que mais precisam”.
A mais recente guerra no conflito de décadas começou quando soldados do Hamas invadiram a fronteira de Gaza com Israel em 7 de outubro. Israel afirma que eles mataram 1.400 pessoas, a maioria civis, e tomaram mais de 200 reféns no dia mais sangrento de seus 75 anos de história. O bombardeio subsequente de Israel contra o pequeno enclave palestino com população de 2,3 milhões matou pelo menos 9.061 pessoas, incluindo 3.760 crianças e 2.326 mulheres, segundo autoridades sanitárias de Gaza.Israel disse que perdeu 18 soldados e matou dúzias de militantes desde que as operações por terra foram expandidas na última sexta-feira.
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Carla
03 de novembro, 2023 | 06:35Invadiram a terra dos palestinos para criar um Estado. Com seu poderio econômico e apoio do xerifão global, EUA impuseram sua cultura a outro país. Claro que haveria consequências. Estive lá. Aquele lugar tem uma energia ruim. Muito ruim.”