16 de março, de 2024 | 10:52

Pacto de silêncio: 12 militares e 2 civis ficam calados em depoimento



Eduardo Reina - repórter da Agência Brasil - São Paulo

Dos 27 depoimentos concedidos à Polícia Federal (PF) no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado e subversão das eleições presidenciais de 2022, 14 pessoas ficaram em silêncio alegando o direito constitucional de não produzirem provas contra si mesmos ou suposta “falta de acesso a todos os elementos de prova”. Todos eles integram, de uma forma ou de outra, de acordo com a própria PF e relatório do Supremo Tribunal Federal (STF), núcleos de pessoas que atuaram dentro do esquema golpista.

Dos 14 que estiveram na PF, 12 são militares, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, e faziam parte dos núcleos de assessoramento dele ou ocupantes de cargos no governo federal. De civis, havia um padre e um advogado.

Jair Bolsonaro e Braga Netto são as duas pessoas com maior posicionamento na hierarquia no núcleo golpista. Este último foi ex-ministro da Defesa de Bolsonaro e candidato a vice-presidente na chapa derrotada nas eleições de 2022. Militar da reserva, Braga Netto foi ministro-chefe da Casa Civil, de 2020 a 2021, e ministro da Defesa, de 2021 a 2022. Com longa carreira militar, exerceu o cargo de comandante militar do Leste entre 2016 e 2019. E em 2018, foi nomeado interventor federal na área de Segurança Pública no estado do Rio de Janeiro.

A enorme lista de depoentes que preferiam ficar calados diante dos agentes da PF está o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, que já havia sido secretário-geral do Ministério da Defesa. Foi o almirante que colocou a Marinha à disposição de Bolsonaro em caso de um golpe de Estado ser dado, conforme as investigações.

Pacto de silêncio

Também ex-integrante do ministério na gestão Bolsonaro, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, do Exército, exerceu o pacto de silêncio. Ele foi ministro da Defesa e depois comandante do Exército, e teria recebido visitas do hacker Walter Delgatti em 2022. Para a PF, o general manteve o mais absoluto silêncio. Mas Delgatti contou à CPMI do 8 de janeiro que manteve conversa com Nogueira, além de ter realizado cinco reuniões com técnicos do Ministério da Defesa para apontar “fragilidades” nas urnas eleitorais.

Outro que não depôs foi o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e responsável por frases polêmicas durante a reunião ministerial gravada em julho de 2022. Na ocasião, o general da reserva do Exército Augusto Heleno afirmou que “se tiver que virar a mesa é antes das eleições”. Disse também que era necessário “agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas”.

Mais um militar do Exército e tido como homem de confiança de Bolsonaro na lista dos quietos é o general da reserva Mário Fernandes, que ocupou cargos na Secretaria-Geral da Presidência da República. Em 2022, ele exerceu o cargo de Autoridade de Monitoramento da Lei de Acesso à Informação, instrumento democrático que estabelece procedimentos e prazos para que todos os órgãos públicos prestem informações aos cidadãos, instrumento bastante utilizado pela imprensa.

Ronald Ferreira de Araujo Junior, tenente-coronel do Exército, alvo da Operação Tempus Veritatuis, manteve-se em silêncio. Ele é investigado por suposta participação na organização criminosa que defendeu um golpe militar e por atuar na elaboração da famosa “minuta do golpe”. O militar tinha estreito relacionamento com o ex-ajudante de ordens da Presidência, coronel Mauro Cid. Depois de ter ficado em silêncio, a defesa de Ronald Ferreira pediu à PF que agendasse um novo depoimento para que ele pudesse depor. Ainda não foi definida data ou mesmo a realização da nova oitiva.

Outro militar do pacto de silêncio que atuou junto com o coronel Mauro Cid, o major das Forças Especiais do Exército Rafael Martins de Oliveira, negociou o pagamento de R$ 100 mil para financiar a viagem de manifestantes a Brasília para participar do 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas e depredadas. Rafael Martin foi preso em fevereiro último durante operação da PF.

Mais um integrante da força terrestre que se manteve calado frente à PF, em 22 de fevereiro, é o tenente-coronel do Exército Hélio Ferreira Lima. Ele é identificado em trocas de mensagens com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid. Comandava a 3ª Companhia de Forças Especiais de Manaus do Comando Militar da Amazônia (CMA). Foi exonerado no dia 14 de fevereiro deste ano.

Também perdeu o cargo público, mas no governo estadual de São Paulo, o major da reserva do Exército Angelo Martins Denicoli. Ele foi alvo de busca e apreensão da operação Tempus Veritatis. Antes de ser nomeado para atuar na Prodesp, empresa pública de tecnologia da informação do governo Tarcísio de Feitas, Denicoli ocupou posto na direção do Ministério da Saúde durante a gestão do general Eduardo Pazuello.

Responsável pelo suposto sistema paralelo de inteligência, a Abin paralela, o coronel do Exército Marcelo Costa
Câmara, segundo a PF, não falou nada no dia 22 de fevereiro. Ele também é citado nas investigações por suposto envolvimento nas fraudes nos cartões de vacina da família Bolsonaro.

Amigo pessoal de Bolsonaro e frequentador da residência do ex-presidente no Rio de Janeiro, o capitão reformado do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros manteve-se em silêncio diante das perguntas sobre suposta ação golpista. Ailton foi expulso do Exército depois de ter recebido punições disciplinares. Já foi investigado por tráfico de drogas. Ao deixar a carreira militar, passou a atuar como advogado. Na eleição de 2022, candidatou-se a deputado estadual e ficou com uma suplência na Assembleia fluminense. Na campanha, apresentava-se como o “01 de Bolsonaro”.

Civis

Os únicos civis do grupo investigado pela PF e alvo da Operação Tempus Veritatis, que também preferiram silenciar no depoimento, são o advogado Amauri Feres Saad e o padre da Igreja Católica José Eduardo de Oliveira e Silva.

Saad é citado na CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro como “mentor intelectual” da minuta do golpe encontrada com o ex-ministro Anderson Torres e também entregue a Bolsonaro. De acordo com relatório do STF, o advogado integrava o chamado “núcleo jurídico” do esquema golpista. O papel do grupo seria o “assessoramento e elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas do grupo investigado”.

Um outro integrante desse “núcleo jurídico”, o padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Paróquia São Domingos, na cidade de Osasco, região metropolitana de São Paulo, também invocou a Constituição Federal para ficar em silêncio em seu depoimento.

O religioso foi alvo da Polícia Federal em busca e apreensão na operação da PF do dia 8 de fevereiro.
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Comentários

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Alto Forno Frio

16 de março, 2024 | 14:24

“O exemplo foi dado: ao ser acusado, cale-se diante da Lei e da voz dos Doutores da Lei. Eles já hackeavam rede social e app de mensagens a mais tempo. Vão descobrir tudo o que tá online. Se seu celular não apaga tudo que diz em 24 horas, cale-se. Se você deixa backup ativo, você será pego. Portanto, cale-se. Quem deve, atue como os grandes narcotraficantes perante o juiz: cale-se e deixe os sons do silêncio trazerem a tona o modus operandi OMAERTA. Fique shiu,”

Bom

16 de março, 2024 | 13:50

“Se esse louco miliciano continuasse no poder.
Com toda certeza hoje estaríamos igualzinho à Venezuela, tudo estaria caríssimo, e o povo ia passar fome .
Ele deixou o poder com o diesel ( que move o país) a quase 10 reais.
O leite à 8 reais, carne de primeira quase 100 reais.
O pior de tudo são os montes de doentes que ele despertou no Brasil, Pessoas más, com o coração ruim .
Não esqueçam que foram os sacerdotes da igreja na época, que fizeram o POVO se revoltar contra JESUS, o taxando de feiticeiro , e o CONDENANDO A PIOR MORTE POSSÍVEL,.”

Ipatinga Avante

16 de março, 2024 | 13:32

“O País se encontra numa situação complicada Deus abençoe grandemente essa nação abençoada brasil..”

Anti Mico

16 de março, 2024 | 11:51

“Engraçado, antes falavam muito e agora não falam nada!!!

Já contando os dias para a pri.... do mico!!! Quero ver o pessoal do vale do aço parando a BR novamente!!!! Turma de sem noção!!!!”

Célio Cunha

16 de março, 2024 | 11:40

“Caro redator; a democracia.
A crença na intocabilidade de algumas pessoas/ categorias.

Alguns dos envolvidos no golpe demonstram acreditar que sua posição social e/ou militar os coloca acima da lei, tornando-os "intocáveis". Essa crença é perigosa e alimenta a cultura de autoritarismo e desrespeito às instituições democráticas.

Expectativas em relação às investigações:

Espera-se que as autoridades responsáveis pelas investigações:

Superem o pacto de silêncio: Utilizem todos os instrumentos legais disponíveis para obter a verdade dos fatos, incluindo medidas coercitivas se necessário.
Investiguem com rigor e imparcialidade: Identifiquem e responsabilizem todos os envolvidos, independentemente de posição social ou hierarquia militar.
Apresentem resultados concretos à sociedade: Garantam que a justiça seja feita e que os responsáveis pelos crimes contra a democracia sejam punidos de forma exemplar.
A necessidade de punição pedagógica:

A punição dos responsáveis pela tentativa de golpe deve ser exemplar, servindo como um marco histórico e pedagógico. É necessário demonstrar que a democracia brasileira é robusta e que ataques contra ela não serão tolerados.”

Luis Carlos.

16 de março, 2024 | 11:26

“Aos poucos a verdade vai aparecendo, "conhecereis a verdade e verdade vos LIBERTARÁ" você quê se entitula evangélico vai continuar apoiando o pai da MENTIRA?vai continuar agindo como os religiosos que se aliaram aos políticos que condenaram JESUS à CRUZ na época..kkkkk”

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